Wednesday 1 February 2012

#8

Quero falar só porque sim. Dizer coisas. Inconsequentemente. Quero tanto esta coisa parva, meio ridícula, mesmo, da auto-comiseração. Quero. Quero. Quero. Eu. Sempre. E, que se foda, não me ralo. Estou rodeado de egoismozinhos estúpidos e imbecis, por vezes disfarçados de altruísmos com segundas intenções ("olha para mim, sou tão altruísta, tão abnegado, valho tanto, porque dou a entender que me ralo com tudo e todos, e venho sempre em último lugar!"), rodeado todos os dias, a toda a hora, de mártires e vítimas e pessoas cujos ideais valem sempre tanto, tão mais que os meus - que nem sei ao certo quais são.
Perdão: sei quais são. Os meus ideais são ideais de um certo amor. De uma certa co-relação interindividual, de simbiose, de sustento, de crescimento e fortalecimento. Aborrece-me a suposta independência que se procura de forma assustadora nos dias que correm. Essa coisa de todos nos valermos por nós próprios. Acabo, claro, preso nisso. A achar-me sozinho, abandonado, nunca preferido em relação a nada, a nunca ter ninguém com tempo para mim, mesmo que eu vá tendo tempo para as pessoas que importam a sério. É que nem essas retribuem nada. Quem tem sempre de entender sou eu, ora! Eu é que não funciono bem. Eu é que estou mal por acreditar - por sentir - que tudo, na vida, se processa numa base muito simples: a da reciprocidade. Recebemos o que damos e damos o que recebemos. É só isto. Resume-se tudo a isto. Dou amor a alguém. Se não o recebo de volta, fico triste, porque o estou a dar. Se trato mal outrém, não posso esperar que me venham trazer beijos e abraços e carinho e uma genuidade de estar e ser tremenda. Sou, como sempre, essa é talvez a minha característica mais profunda, um homem de e para mulheres. Preciso de me dar e de estar com mulheres. De ter uma companhia independente de mim, mas que me busque e que sinta que precise de mim. Nem que seja por haver uma química sexual maravilhosa. Mas que precise de mim e que me deixe o abandono total de precisar dela. Porque somos humanos, sei lá... precisamos uns dos outros. A ciência não sabe explicar, com toda a sua lógica e física e matemática, a necessidade de ouvir alguém que nos interesse falar das coisas mais banais enquanto se toma um café. Podem haver genes e hormonas e feromonas e um instinto de sobrevivência, mas se fosse só isso não sofríamos, não tínhamos desgostos de amor, não pensávamos nem reflectíamos nem sentíamos saudades. Éramos como insectos ou bichos selvagens, que esses também vão mantendo a sua espécie em permanência e em sobrevivência através de meros instintos biológicos. Nós não somos animais, somos pessoas. Há, apesar de tudo, apesar do ténue que essa barreira possa ser, do ponto de vista da biologia e da física e da química, uma separação. Somos mais que "animais racionais". Eu sei que somos. Vejo-o e sinto-o e vivo-o.
Dou por mim a sofrer a maior percentagem de tempo em que vivo e isso assusta-me. Sou feliz algum tempo. Muito feliz, sim, tão feliz que julgo mesmo esse facto ocasional compensar todos os momentos de angústia e arrastar emocional e existencial. Às vezes compensa. Mas a minha necessidade de companhia, de cumplicidade, de encanto, de fisicidade no meio e por fora e por dentro de tudo isso é o que é, e não se compadece das pessoas fúteis e egocêntricas que não o vêem. O meu egoísmo latente ressente-se do ainda maior egoísmo dos outros - maior, quanto mais não seja, porque velado, porque oculto sob uma capa de "estamos aqui, agora, e é assim que isto funciona porque os filósofos e os físicos e os matemáticos e os teólogos dizem que sim". Encontro pessoas. Acredito nelas. Dou-me todo. Mas elas nunca o notam, não lhes convém notá-lo ou, na minha ingenuidade típica, simplesmente não o conseguem ver. Não percebo porque é que as mulheres da minha vida não percebem que os meus "melodramas" nunca são só isso. São verdades sentidas, são dores, são saudades antecipadas e sobretudo saudades de uma coisa que está ali a acabar mas que sei que está mesmo a acabar, e não quero, não consigo deixar que suceda.
Tenho tido sempre gente muito interessante na minha vida. Mulheres lindas, inteligentes. Mas algumas, peço imensa desculpa pela frontalidade, são muito burras, emocionalmente. Vivem de desculpas e de ficções. Não me podem ver chorar, sofrer, arder, enlouquecer, porque isso é "jogo psicológico". Não entendem o quanto um coração se parte quando uma pessoa que amamos se vai embora sem o desejarmos. E, não, não me venham com histórias de que temos de perceber que "é o melhor para os dois"... um coração vai sair mutilado disso. Quase sempre. Sempre. Horrivelmente mutilado.

E mais havia, a dizer, mas agora não consigo. É isto. É um bocado mais que isto, mas, sobretudo, por agora, é isto.